Quando o assunto é dimensionamento de piquetes para bovinos de corte, o que não faltam são dúvidas. Ainda que a experiência e o treinamento sejam fundamentais para garantir os melhores resultados, sem dúvida seguir algumas “regrinhas” básicas faz toda a diferença.
Uma das principais dúvidas é sobre os cálculos para definir o número e o tamanho dos piquetes, além da adequação desses piquetes às características do rebanho. Siga a leitura e veja as orientações que separamos.
Qual a quantidade certa de piquetes?
Para definir o tamanho ideal de um piquete para gado de corte, você terá que considerar algumas variáveis. Vamos vê-las em detalhes.
Demanda de forragem
Esse é o primeiro ponto a ser analisado e está relacionado à demanda de forragem pelo seu rebanho. Essa demanda varia dependendo do sexo, categoria (bezerro desmamado, animal em recria ou engorda etc.), desempenho do animal e qualidade da forragem.
Períodos de ocupação e descanso
A área de pasto deve ser suficiente para a sua demanda e produção de forragem. A quantidade de forragem produzida dependerá de várias questões como clima, solo e manejo da pastagem, além da espécie forrageira.
O efeito do rebanho na pastagem pode ser mensurado de acordo com: a frequência da desfolha (intervalo de tempo entre cortes ou liberação da área para pastagem sucessiva), a sazonalidade da desfolha (época em que a desfolha é realizada) e a intensidade da desfolha (proporção da forragem removida por corte ou pastagem).
A intensidade da desfolha pode ser influenciada, diretamente, pela taxa de lotação e período de ocupação. Para os períodos de descanso, você encontra valores de referência de acordo com a espécie de forrageira. Porém, o mais indicado é, sempre, observar a sua realidade.
Em condições climáticas favoráveis ao acúmulo de forragem, com pastejo leve, pode-se adotar períodos de descanso de menor duração (maior frequência da desfolha). Quando as condições de clima e de solo forem desfavoráveis ou o pastejo for mais intenso, trabalhe com períodos maior de descanso (menor frequência de desfolha).
Número de piquetes
Após definir os períodos de ocupação e descanso, você pode aplicar a fórmula para calcular o número de piquetes no pastejo rotacionado.
Número de piquetes = (período de descanso / período de ocupação) + 1
No caso de sistemas extensivos e semiextensivos, o uso de pastejo rotacionado com pequeno número de piquetes (de 2 a 4) é bem interessante. Para essas situações, a recomendação é que o período de ocupação não seja maior que 28 dias.
Vamos usar esta sugestão como exemplo, com período de ocupação e de descanso de 28 dias cada um. Ao aplicar a fórmula, teríamos:
Número de piquetes = 28/28 + 1
Número de piquetes = 1+1= 2.
Com níveis maiores de adubação (principalmente de fertilizantes nitrogenados), é preciso diminuir o período de ocupação para menos que 10 dias. Se o uso de nitrogênio for maior que 300 kg/ha/ano, os períodos de ocupação devem ser menores que 3 dias. Nessas situações, o número de piquetes na fazenda aumenta bastante.
Com mais piquetes, você também terá mais custos com cercas e bebedouros. Por isso, é importante considerar os prós (aumento na taxa de lotação, melhor eficiência de pastejo etc.) e os contras (necessidade de maior frequência e acuidade de monitoramento, ajustes no manejo, elevação de custos de produção etc.) na hora de decidir o número de piquetes.
O aumento na eficiência de manejo está associado à maior taxa de lotação. Porém, o consumo de forragem e o desempenho por animal diminuem progressivamente, com a taxa de lotação. Dentro de alguns limites, a adubação nitrogenada viabiliza o incremento da taxa de lotação (devido ao aumento de produção de forragem), sem que haja redução no desempenho por animal.
Qual o tamanho do piquete?
Depois de entender quantos piquetes a sua fazenda precisará, é importante avaliar o tamanho desses piquetes. A área do lote depende da prioridade do manejo na propriedade.
O cálculo considera valores como: categoria (kg de peso vivo), número de cabeças, quantidade de unidade animal (UA – 450 kg de peso vivo), ingestão diária por cabeça e por categoria.
Também é importante lembrar de separar os lotes por categorias, evitando situações de competição e manejar lotes de vacas com bezerros em grupos menores.
Para bons resultados, além do tamanho certo, é indispensável os cuidados básicos com o manejo, como: disponibilidade adequada de cocho de sal e água, boas práticas de manejo a fim de evitar o estresse nos animais e níveis sanitários sempre em ordem.
Muitos produtores têm conseguido bons resultados com lotes que variam de 100 a 150 cabeças de gado. Mas também é possível realizar manejos com mais de 1000 cabeças, demonstrando a importância de analisar sempre a sua realidade.
Alimentação e pastagem
Sempre se lembre que o aumento da eficiência no consumo da forrageira pelos animais se deve à uniformidade do pastejo e não ao aumento da produção em volume da forrageira. Assim, é fundamental fazer um bom manejo das pastagens.
Ou seja, preparar o solo, adubar e proporcionar o tempo necessário para a planta realizar a completa recuperação. Se a forragem escolhida tiver alta demanda nutricional e o solo for pobre, é preciso ter atenção redobrada em relação à adubação.
Por melhor que seja sua forrageira, é normal que ela seja deficiente em alguns nutrientes, o que fica ainda mais notável quando estamos em épocas de chuvas ou de seca. Assim, nunca se esqueça de suplementar a alimentação.
Cálculo da taxa de lotação
A taxa de lotação diz respeito ao número de unidades animais (UA) que podem ser colocadas por hectare ou piquete. Cada UA corresponde a 450 kg de peso vivo.
Um fator que influencia na taxa de lotação é o tipo de forrageira, já que cada espécie tem um potencial para produção que definirá quanto de forragem estará disponível para a alimentação dos animais.
Para saber esse dado na sua fazenda, faça a coleta do material, entendendo qual é a produtividade do seu capim. Colete o capim rente ao solo com uma moldura de 1m² (pode ser feita de cano, ferro ou até de bambu, com dimensões de 1 x 0,5m ou 1x1m).
Corte a forragem rente ao solo em, pelo menos, 3 a 5 pontos na área e depois multiplique esse peso por 0,20 (20% é o teor de matéria seca do capim no ponto ótimo de corte). Claro que, dependendo do caso, esse teor de matéria seca será diferente, mas ao usar 20%, você terá um resultado aproximado.
Assim, você terá a produtividade de massa seca pela área coletada. Depois, é só multiplicar esse valor por 0,7 (corresponde a 70% - valor usado para desconsiderar as perdas e altura do resíduo do capim) e você terá a produtividade média pela área coletada.
Extrapole esse cálculo para toda a área, multiplicando o peso médio de 1m² pelo tamanho do seu piquete – e você terá a produtividade do piquete (massa seca por dia).
Depois, é só considerar a média de alimentação do gado que você produz e fazer os cálculos de quanto os animais precisam e de quanto o seu piquete produz.
Então, se você aumentar o número de dias de ocupação, terá de diminuir o número de piquetes e aumentar a área de cada piquete.
Agora, ficou mais fácil fazer o dimensionamento de piquetes para bovinos de corte? Se, por outro lado, você é criador de vacas leiteiras, não pode deixar de ler nosso conteúdo com os 6 cuidados mais importantes no manejo! E se você curtiu esse conteúdo, cadastre-se na nossa newsletter para receber outras dicas direto no seu e-mail!